Gustavo Victor1; Andreia Urbano2; Sônia Marçal3; Ricardo Porto3; Claudia Maria Francesconi4; Adriana dos Santos Forseto4; Breno Barth5; Milton Ruiz Alves6; Walton Nosé4
DOI: 10.1590/S0004-27492005000600005
RESUMO
OBJETIVO: Realizar o primeiro censo brasileiro de cirurgia refrativa. MÉTODOS: Entre agosto de 2001 e fevereiro de 2002 foram enviados questionários para 7.890 oftalmologistas brasileiros, com questões sobre aspectos demográficos, tendências, padrões de práticas, instrumentos, cuidados pré-operatórios e mercado da cirurgia refrativa. RESULTADOS: Novecentos e vinte questionários (11,67%) foram devidamente respondidos. O laser in situ ceratomileuse é a técnica preferida para correção de dioptrias entre +5,00 e -7,00 D. O excimer laser mais utilizado é o Nidek® EC 5000 e o microceratótomo mais freqüente é o Hansatome. Outros aspectos como: demográficos, procedimentos, técnicas, tendências, volume cirúrgico, cuidados pré-operatórios e mercado também foram analisados. CONCLUSÃO: A partir desta pesquisa, pode-se observar e monitorar aspectos demográficos, padrões de práticas, tendências, tecnologia e mercado da cirurgia refrativa no Brasil e compará-las com outras pesquisas semelhantes em outras partes do mundo.
Descritores: Erros de refração; Cirurgia a laser; Ceratomileuse assistida por excimer laser in situ; Questionários; Oftalmologia; Condutas na prática dos médicos; Coleta de dados; Brasil
ABSTRACT
PURPOSE: To perform the first Brazilian refractive surgery survey. METHODS: Between August 2001 and February 2002, a questionnaire was mailed to 7890 Brazilian ophthalmologists. The questionnaire presented questions about demographic aspects, technology, instruments, market, trends, practice patterns and cost of refractive surgery. RESULTS: Nine hundred and twenty questionnaires (11.67%) were answered. LASIK is the preferred technique for correction between +5.00 and -7.00 D. The mostly used excimer laser is Nidek® EC 5000, and Hansatome is the mostly used microkeratome. Others aspects like: demographic, techniques, practice patterns, trends, market, and pre-, intra- and postoperative care, were analyzed. CONCLUSION: With this survey, the Brazilian ophthalmologists can observe and monitor these aspects of refractive surgery in Brazil, and compare them with others surveys.
Keywords: Refractive errors; Laser surgery; Keratomileusis; laser in situ; Questionnaires; Ophthalmology; Physician's practice patterns; Data collection; Brazil
INTRODUÇÃO
Desde os primeiros estudos de Barraquer(1-6), a cirurgia refrativa (CR) tem sofrido inúmeras e contínuas mudanças. Atualmente, o "laser in situ keratomileusis" (LASIK) é uma das cirurgias mais realizadas em todo o mundo(7-10). Desde 1984, a Sociedade Americana de Catarata e Cirurgia Refrativa (ASCRS) realiza censo sobre variados tópicos em CR(10-11), documentando mudanças, tendências, tecnologia, prática padrões, preferências e mercado nesta área da oftalmologia. No Brasil não há registro de nenhum censo em cirurgia refrativa. Sabendo da importância deste tipo de estudo, os autores, em associação com a Sociedade Brasileira de Cirurgia Refrativa (SBCR), idealizaram, propuseram e realizaram o primeiro censo brasileiro de cirurgia refrativa.
MÉTODO
Em agosto de 2001, uma carta e um questionário sobre informações dos oftalmologistas, prática padrão, técnicas cirúrgicas, equipamentos e instrumentação, taxas de complicações e cuidados per-operatórios foram enviados para 7.890 oftalmologistas brasileiros. As perguntas foram propostas pelos autores em associação com a SBCR. Na época, um dos autores era presidente da SBCR. Os oftalmologistas foram motivados a responder e enviar o questionário para a sede da SBCR. A logística de distribuição em todo território nacional e seus custos foi feitos pela Alcon® Brasil. A data limite para envio das respostas foi 26/02/2002. Todos os questionários respondidos e enviados a SBCR foram analisados. Com ajuda do software Microsoft Excel® 2000, construiu-se um banco de dados e realizou-se a análise estatística.
RESULTADOS
Novecentos e vinte questionários (11,67%) foram devidamente respondidos e enviados à sede da SBCR até a data limite de entrega.
GERAL
Demográficos
A maior parte dos respondentes tinha idade igual ou menor que 35 anos (22,6%); 16,5% tinham entre 45 e 49 anos; 16,2% entre 50 e 54 anos; 15,4% entre 40 e 44 anos; 5,2% entre 55 e 59 anos; 5,2% entre 60 e 64 anos; e, 2,2% tinham idade igual ou maior que 64 anos. Entre os respondentes, 75% eram do sexo masculino. Vinte e um por cento dos respondentes tinham até 10 anos de formado; 18,9% tinham entre 20 e 25 anos de formado; 14,6% entre 15 e 20 anos; 14,6% entre 25 e 30 anos; 3,4% entre 30 e 35 anos; 2% entre 35 e 40 anos; e, 1,8% tinham mais de 40 anos de formado. Do total dos oftalmologistas, 7,2% já se submeteram a algum tipo de cirurgia refrativa. Vinte e nove por cento dos respondentes afirmaram ter entre 1 e 3 anos de experiência em cirurgia refrativa; 27,5% tinham entre 4 e 6 anos de experiência; 14,4% entre 7 e 10 anos; 11,5% tinham mais de 15 anos de experiência em CR; 10,8% tinham entre 11 e 15 anos; e, 6,8% dos respondentes afirmaram ter menos de 1 ano de experiência em CR.
Número de cirurgia refrativa, tipos de cirurgia refrativa e local onde as realizam
A maior parte dos respondentes (30%) realiza menos de 5 CRs por mês, enquanto 28,4% realizam entre 5 a 10 CRs por mês; 16,8% realizam mais de 30 CRs por mês; 12,1% realizam entre 11 e 20 CRs por mês; e, 5,7% realizam entre 21 e 30 CRs por mês. O quadro 1 mostra a distribuição dos tipos de CRs na prática diária dos entrevistados. A maioria (53,7%) dos entrevistados não possui centro cirúrgico refrativo, enquanto 37,8% possuem sociedade em algum centro cirúrgico refrativo, e 8,5% possuem seu próprio centro cirúrgico refrativo. Quanto ao local onde realizam as cirurgias refrativas, 54,2% dos respondentes realizam suas cirurgias refrativas em uma clínica oftalmológica, 25,5% realiza-as em algum hospital, 7,7% realizam em clínicas próprias, e 2,6% realizam em ambos os lugares, clínica oftalmológica e hospital.
LASIK
Indicação e exames pré-operatórios
A idade média mínima para quem os entrevistados indicam a cirurgia refrativa foi de 20,42 ± 1,9 anos. O quadro 2 mostra para qual dioptria (D) os entrevistados indicam LASIK, considerando os tipos de erros refracionais (miopia, hipermetropia, astigmatismo miópico e astigmatismo hipermetrópico). No exame pré-operatório, 99,3% dos respondentes realizam topografia corneana computadorizada, 96,7% realizam refração estática, 97,4% realizam paquimetria ultra-sônica do centro da córnea, 56,5% realizam paquimetria ultra-sônica da periferia corneana, 95,0% realizam exame de mapeamento de retina, 13,7% avaliam a profundidade da câmara anterior, 20,9% aferem o comprimento axial do globo ocular, 24,5% realizam microscopia especular da córnea, 97,3% aferem a pressão ocular (PIO), 63,1% aferem subjetivamente o diâmetro pupilar, 4,1 realizam pupilometria infravermelha, 14,1% realizam teste de Schirmer e 4,1% realizam outros tipos de exames no pré-operatório.
Tecnologia
O excimer laser mais utilizado é o Nidek® EC-5000 (42,6%), seguido pelos modelos Bausch & Lomb 217 Technolas® e Visx S2/S3® ambos com 13,1%, em seguida estão os modelos Alcon LadarVision® e Meditec MEL-70®, ambos com 11,7%, LaserSight LSX® (9,9%), VisX 20/20® (0,7%), WaveLight Allegretto® (0,2%), e outros modelos de excimer laser (15,4%).
O microceratótomo mais utilizado é o Hansatome® (57,7%), seguido pelo Moria Carriazo-Barraquer® (19,2%), ACS® (18,5%), MK 2000® (17,1%), LSK One® (8,7%), Summit Krumeich-Barraquer® (7,8%), Amadeus® (5,3%), Moria One disposable® (4,3%), LaserSight disposable® (1,7%), Inovatome® (0,4%), e outros (5,0%).
Práticas padrão
Lamela
Se não houver restrição, a plataforma de corte preferida dos respondentes é a de 160 µm (75,5%), seguida pela de 180 µm (14,2%) e a de 130 µm (8,5%). Outros preferem as plataformas de 130 e 160 µm (0,4%) e 160 e 180 µm (1,3%). O diâmetro preferido da lamela corneana pediculada para a correção da miopia é de 8,5 mm (75,7%), seguido pelo de 9,5 mm (21,9%). Outros diâmetros representaram 2,4% das respostas. Para a correção da hipermetropia, o diâmetro da lamela corneana pediculada preferido foi de 9,5 mm (82,2%), seguido pelo de 8,5 mm (16,6%). Outros diâmetros representaram 1,2%.
Vestimenta
Durante a cirurgia, 95,0% dos entrevistados usam máscara cirúrgica, 16,8% usam luvas estéreis normais, 14,1% usam luvas estéreis de látex, 0,7% usam luvas estéreis com talco, 54,3% usam "sterile drap", 4,2% usam "non sterile drap", 98,1% usam gorro cirúrgico, 87,2% usam avental cirúrgico e 95,2% usam protetores cirúrgicos estéreis para os pés.
Leito estromal residual
Durante o primeiro procedimento, leito estromal residual mínimo (LEM) maior ou igual a 300 µm é preferido por 30,6% dos respondentes; leito estromal mínimo entre 275 e 299 µm, por 11,8%; LEM entre 250 e 274 µm, por 51,3%; LEM entre 225 e 249 µm, por 4,5%; LEM entre 200 e 224 µm, por 1,9%; e nenhum dos respondentes utiliza LEM menor ou igual a 200 µm no primeiro procedimento. Durante uma segunda intervenção, LEM maior ou igual a 300 µm é aceita por 15,7% dos respondentes; LEM entre 275 e 299 µm, por 15,2%; LEM entre 250 e 274 µm, por 54%; LEM entre 225 e 249 µm, por 10,1%; LEM entre 200 e 224 µm, por 3,8%; e LEM menor ou igual a 200 µm, por 0,5% dos entrevistados.
Ceratometria
A menor ceratometria em que realizaria LASIK miópico seria maior ou igual a 38 D para 42,4% dos entrevistados; entre 36 e 38 D para 33,3%; entre 33 e 35 D para 19,2%; entre 30 e 32 D para 5,0%; e menor ou igual a 30 D para 0,2%. Para a correção da hipermetropia com excimer laser, a maior ceratometria em que realizaria LASIK seria entre 45 e 47 D para 71,6% dos entrevistados; entre 48 e 50 D para 26,7%; e maior ou igual a 50 D, para 1,7% dos oftalmologistas.
Diâmetro pupilar
O maior diâmetro pupilar na penumbra em que realizariam LASIK: seria 8 mm para 9,2% dos respondentes; 7 mm para 36,6%; 6 mm para 42,1%; 5 mm para 11,3%; e maior que 8 mm para 0,8% dos entrevistados.
LASIK vs PRK
O gráfico 1 mostra a porcentagem que o LASIK ou PRK representam na prática cirúrgica refrativa dos respondentes.
Cirurgia seqüencial vs simultânea
O gráfico 2 mostra a preferência dos entrevistados quanto à realização de cirurgias refrativas a laser de modo seqüencial (em dias diferentes) ou simultânea (no mesmo dia).
Monovisão
Quarenta por cento dos respondentes não realizam monovisão em suas cirurgias refrativas a laser, 47,5% realizam mo novisão em 1,0 a 24,0% dos pacientes; 4,5% realizam em 25,0 a 49,0%; 3,7% realizam em 50,0 a 74,0%; 3,7% realizam em 75,0 a 99,0%; e 1,7% realizam em 100% dos pacientes. A melhor correção para a monovisão seria de 1,5 D para 24,8% dos respondentes; menor que 1,5 D para 14,8%; 2 D para 12,5%; e 1,75 D para 10,5% dos entrevistados.
Lâminas
Seis por cento dos entrevistados relataram que trocam a lâmina do microceratótomo entre diferentes olhos; 32,5% referem trocar entre pacientes; 40,7% trocam-na entre 2 a 3 pacientes; 15,8% trocam-na entre 4 a 6 pacientes; 2,9% trocam-na entre 7 a 10 pacientes; 0,9% trocam-na entre mais de 10 pacientes; e 1,2% trocam-na diariamente.
Medicação pós-operatória
O quadro 3 mostra a distribuição dos tipos de medicamen tos utilizados no pós-operatório das cirurgias refrativas a laser, de acordo com os entrevistados. O quadro 4 mostra a porcentagem dos entrevistados em relação ao tempo de uso da medicação pós-operatória em LASIK.
Avaliação pós-operatória
O exame pós-operatório é realizado imediatamente após a cirurgia por 19,2% dos entrevistados; 11,1% examinam o paciente antes de o mesmo ir embora; 37,9% avaliam o paciente no primeiro dia após a cirurgia; 1,2% examinam os pacientes imediatamente após a cirurgia e antes deles irem embora; 15,9% examinam imediatamente após a cirurgia e no dia seguinte; 8,7% examinam antes de os pacientes irem embora e no dia seguinte; e 5,2% examinam imediatamente após a cirurgia, antes de os pacientes irem embora e no dia seguinte. Em 0,9% dos respondentes, o pós-operatório é realizado por assistente.
Complicações e efeitos colaterais
A tabela 1 mostra a distribuição das complicações e efeitos colaterais de acordo com os respondentes.
Wavefront
"Wavefront" é utilizado por 4,5% dos entrevistados, 95,5% referem não usá-lo, porém 76,4% acreditam que o "wavefront" proporcionará melhora da qualidade de visão.
Custo
O gráfico 3 mostra o custo da cirurgia refrativa a laser, de acordo com os respondentes. O gráfico 4 mostra a perspectiva dos respondentes em relação à mudança no preço do LASIK. A tabela 2 mostra a distribuição no modo de pagamento das cirurgias.
Dos respondentes, 68,4% não são sócios da SBCR.
DISCUSSÃO
Fatores demográficos
Esta pesquisa teve uma taxa de respondentes similar às últimas realizadas pela ASCRS, dentro dos Estados Unidos: 985 respondentes (15%)(10) e 509 respondentes (11%)(12), e com sócios membros de todo o mundo: 1.174 respondentes (13,2%)(9). No Brasil, 7,2% dos respondentes desta pesquisa já se submeteram a algum tipo de CR, comparado a outro estudo(13), em que 17,6% dos respondentes já se submeteram a alguma CR. Em alguns estudos recentes, a maioria dos respondentes tinha entre 40 e 54 anos(13) e entre 40 e 59 anos(10). Em 2004(13), o grupo com maior experiência em CR, mais de 25% dos cirurgiões refrativos respondentes, tinha entre 7 e 10 anos de experiência refrativa.
Número de cirurgia refrativa, tipos de cirurgia refrativa e local onde as realizam
Estes autores(13) também referem que mais da metade (53%, contra 51,2% da pesquisa anterior(9)) dos respondentes realizaram até 20 cirurgias refrativas por mês; 19,6% (contra 19,7% da pesquisa anterior(9)) realizaram menos que 5; e que 47% (contra 48,8% da pesquisa anterior(9)) realizaram mais de 20 CRs por mês. É referido(13) também que há mais cirurgiões dentre os que já se submeteram a alguma CR (84%) do que os que nunca se submeteram (53,6%). O contrário, também reforça esta correlação: enquanto 15,2% dos que já se submeteram a algum tipo de CR não realizaram CR; 46,4% dos que nunca se submeteram à CR não a realizaram(13). Assim como no Brasil, o LASIK é o procedimento refrativo preferido dos cirurgiões(9-10,13). Pesquisas de 2003(10) referem que a porcentagem de respondente que fazem LASIK estaria estável, em torno de 55 a 56%, desde 2001(14-15). O LASEK foi realizado por 26% dos respondentes em 2003(10), contra 13% em 2002(15). Em 2003(10), o PRK foi realizado por 47%, anel intra-corneano por 4%, ceratoplastia lamelar térmica por 2%, ceratoplastia condutiva por 10%, implantes fácicos por 7%, extração de cristalino transparente por 40%, incisões relaxantes por 78% dos entrevistados. Estes autores(10) referem ainda que dos que utilizaram o excimer laser, 16% utilizaram o de um centro refrativo aberto para "locação", 40% têm seus próprios excimers, e 44% utilizaram os excimers dos quais são sócios.
LASIK
Quanto aos exames pré-operatórios, a topografia corneana também é realizada pela grande maioria dos respondentes de uma pesquisa similar(13). Que também revela que 89,3% de seus respondentes realizam a medida direta do diâmetro pupilar no escuro, e que 44,1% utilizam o pupilômetro infravermelho. O teste de Schirmer é realizado por 34,5% dos respondentes(13), enquanto neste estudo, por 14,1%.
Ao contrário desta pesquisa, outros autores revelam que o excimer laser mais utilizado é o Visx®, variando de 57,6%(13) a 71%(10) ou 72%(12); seguido pelo LadarVision® com 17%(10,12-13). Em seguida, empatados, estão os excimers Technolas Bausch & Lomb® e Nidek® com 4%(10,12). Um estudo recente(13) revela que o excimer laser preferido dos latinos americanos é o Nidek® NC 5000, fato que coincide em parte com esta pesquisa, pois foi avaliado apenas o Brasil. Assim como no Brasil, o microcerátomo (MK) mais utilizado é o Hansatome® (10,12-13). Em segunda e terceira posição de preferência, estão Amadeus® e Moria Carriazo-Barraquer® (10,13). Segundo este último estudo(13) os MKs que obtiveram maior aumento de preferência foram o IntraLaser® (de 2,3% para 5,1%) e o BD® (de 1,8% a 3,1%). Em relação ao diâmetro do disco, este estudo(13) revela que para os míopes a preferência é a mesma para os discos de 8,5 e 9,5 mm de diâmetro (35%), enquanto para os hipermétropes, o diâmetro preferido é semelhante ao presente estudo, 82,4% preferem diâmetro de 9,5 mm, contra 14% que preferem o de 8,5 mm.
Enquanto 100% dos respondentes africanos usam máscara cirúrgica durante o LASIK, os da Ásia, Canadá, Europa, América Latina, Oceania e Estados Unidos (EUA), usam máscara cirúrgica com menor freqüência que os brasileiros, 89,3%, 71,4%, 66,7%, 85,7%, 69,2%, e 77,9%, respectivamente(13). Entretanto, mesmo somando os resultados dos respondentes que referem usar algum tipo de luva no presente estudo (31,6%), a freqüência de uso de luvas na cirurgia do LASIK no Brasil (em 2002) só ganha para a dos respondentes africanos, que não as usam(13), pois na Ásia, Canadá, Europa, Oceania e EUA a freqüência de uso de algum tipo de luvas cirúrgica é de 64,3%, 57,1%, 71,6%, 92,3%, e 64,3%(13). É apenas comparável ao dos latinos americanos, que é de 28,5%(13). Quanto ao uso de gorro cirúrgico nas cirurgias de LASIK, que no Brasil é quase uma unanimidade com 98,1%, este achado só é similar aos dos africanos, onde 100% os usam durante o LASIK(13). Pois os respondentes de Ásia, Canadá, Europa, América Latina, Oceania e EUA referiram usar gorro cirúrgica com menor freqüência: 82,1%, 50%, 46,7%, 81%, 76,9%, e 80,2%, respectivamente(13). Durante o LASIK, os cirurgiões latino americanos são os que usam com maior freqüência avental cirúrgico (71,4%)(13), dado mais próximo da freqüência no Brasil, que é de 87,2%. A freqüência de uso desta vestimenta na África, Ásia, Canadá, Europa, Oceania e Estados Unidos é de 50%, 53,6%, 0%, 43,3%, 46,2%, e 6,7%, respectivamente(13). Em 2001(16), os sul-americanos usaram com menor freqüência luvas durante o LASIK do que a Europa, Oceania e EUA; porém usam mais freqüentemente avental cirúrgico que estas outras localidades. Em outra pesquisa mais atual(13), os latinos americanos são alguns dos que usam máscara cirúrgica, gorro cirúrgico e avental cirúrgico com maior freqüência do que a maior parte do mundo, porém são alguns dos que menos usam luvas cirúrgicas para o LASIK.
Assim como no presente estudo, a maioria dos respondentes de outro mais recente(13) e de mesma época(16) preferem LEM entre 250 e 274 µm, durante o primeiro ou segundo tratamentos, porém em maior porcentagem. Apesar de haver certo consenso de LEM em cirurgias primárias de LASIK(8), 6,4% dos entrevistados brasileiros ainda deixam LEM menor que este, dado semelhante à pesquisa internacional similar da mesma época(16), onde 5% dos entrevistados iam além dos 250 µm. Entretanto, esta freqüência baixou para 1,1% mais recentemente(13).
Em relação à ceratometria, uma pesquisa(16) similar, da mesma época deste, refere que 45% dos respondentes programam, para LASIK miópico, ceratometria central corneana mais plana entre 33 e 35 D, e, para LASIK hipermetrópico, ceratometria entre 45 e 47 D. Mais recentemente(13), estes valores mudaram para: 36 e 38 D; e 48 e 50 D, respectivamente. Em contraste com o presente estudo, outro(16) revela que 99% dos entrevistados realizariam LASIK em pacientes com diâmetro pupilar na penumbra de 6 mm, e 34% fariam em pacientes com diâmetro pupilar na penumbra de 8 mm.
Ao contrário dos achados deste estudo, outro autor(10) refere que apenas 2% dos respondentes não realizam LASIK de modo simultâneo (os dois olhos no mesmo dia), e que em 1998 este percentual foi de 17%. Enquanto 99% destes mesmos respondentes referiram sempre realizar LASIK de modo simultâneo em 2003, este percentual foi de 21% em 1998, 52% em 2000, e 65% em 2001(10). Atualmente(13), a prática do LASIK simultâneo ainda é a mais utilizada. Em relação à monovisão, um relato semelhante(13) refere que 8,9% dos respondentes não realizam monovisão, e que 64,9% referem fazer monovisão em 1 a 24% dos seus pacientes. Estudos de 2002 a 2005(9,13,16) referem que em torno de três quartos dos cirurgiões preferem trocar a lâmina do MK entre pacientes, entretanto cerca de um terço dos respondentes da Oceania e dois terços dos Europeus preferem trocar a lâmina do MK entre olhos. Nestes estudos(9,13,16), cerca de metade dos respondentes latinos americanos preferem trocar a lâmina do MK entre 2 ou mais pacientes. Assim como o presente estudo, em 2001(16) os antibióticos mais utilizados foram do grupo das fluorquinolonas, de maneira que 57% destes respondentes os utilizaram no pré-operatório, 78% no per-operatório, e 84% no pós-operatório. Porém, mais recentemente(12-13), as fluorquinolonas de quarta geração foram as que apresentaram maior aumento relativo de preferência. Em sincronia com o presente estudo, em 2001(16), no pós-operatório, os esteróides de média potência foram os mais utilizados. Todavia, estudo mais recente(10) refere que, no pós-operatório, a prednisolona é o agente esteróide mais utilizado. Entre as complicações, o olho seco é a mais freqüente desde 2001, seguido pelo "glare"(9,13,16). O uso da tecnologia de "wavefront" pelos brasileiros está similar à referida por um estudo semelhante da mesma época(16). Este(16) refere que o "wavefront" foi utilizado por até 3% dos respondentes de todos os países, excetuando os europeus, onde a freqüência de uso foi de 14%. Apesar de cerca de 98% dos respondentes disseram em 2001 que não utilizam ablação customizada, 77% deles referiram que acreditam que esta tecnologia pode aumentar a qualidade de visão(16). O custo do LASIK vem se mantendo entre US$ 1.500 e US$ 2.000 por olho nos EUA, Europa e Oceania, entre 2002 e 2005(9,13,16). Na América Latina, o custo por olho do LASIK vem se mantendo entre os mais baixos do mundo(9,13,16), sendo que 25% dos latinos americanos referem, atualmente(13), praticar preços menores que US$ 500 por olho.
Assim como as maiores e mais divulgadas pesquisas deste tipo no mundo(9-16), esta tem o objetivo principal de tornar mais acessível este tipo informação para todos os oftalmologistas. Desta forma, pode-se observar e monitorar aspectos demográficos, práticas padrões, tendências, tecnologia e mercado da CR.
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Endereço para correspondência
Gustavo Victor
Av. República do Líbano 1034
São Paulo (SP) CEP 04502-001.
E-mail: [email protected]
Recebido para publicação em 01.04.2005
Versão revisada recebida em 20.09.2005
Aprovação em 03.10.2005
Trabalho realizado no Eye Clinic Day Hospital.
Nota Editorial: Depois de concluída a análise do artigo sob sigilo editorial e com a anuência dos Drs. Belquiz Rodrigues do Amaral Nassaralla e Wallace Chamon sobre a divulgação de seu nome como revisor, agradecemos sua participação neste processo.
Os autores não têm nenhum interesse comercial no produto em estudo.