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Editorial

Transição

Harley E. A Bicas

DOI: 10.1590/S0004-27492005000600002

EDITORIAL

 

Transição

 

 

Harley E. A. Bicas

 

 

A quem viveu as intensas emoções de usufruir amizades que, primeiro, apontaram seu nome como capacitado a desempenhar a Presidência do Conselho Brasileiro de Oftalmologia, depois dignificaram-no pela convergência de apoios a essa proposta e, finalmente, honraram-no pelo consenso com o qual a candidatura se consolidava por não lhe fazerem oponência, pouco parecia faltar. Pois foi em tal condição de responsabilidade e respeito, na antecipação do resultado da eleição de candidatura única que se avizinhava, prenunciando as exigências do cargo maior, que aconteceu.

Não se espere a revelação de um segredo bombástico. Era uma reunião normal do Corpo Editorial dos Arquivos Brasileiros de Oftalmologia. E como último item da pauta, anunciei que, ao se confirmar minha assunção do honroso cargo de Presidente do Conselho Brasileiro de Oftalmologia, deixaria o de Editor-Chefe dos Arquivos. Despedi-me. Vieram os pronunciamentos. De cada um e de todos: Cristina, Mauro Campos, Mauro Goldchmit, Paulo Dantas, Samir, Vital, Paulo Imamura, Claudete e Cláudia.

Não chorei. Homens não choram, assim foi como fui condicionado. Menos ainda quando Editores-Chefes. Mas quase. Falaram pessoas que aprendi a admirar e em cujo convívio de trabalho, de seriedade e de dedicação ao que delas se esperava, não havia lugar a efusões de carinho e nem antes cabiam, mas então afloravam.

Falaram como pais e mães que vissem um filho sair de casa, progredindo em sua vida. Como pai que sempre pensei ter sido, mantendo o grupo em união e equilíbrio, senti-me rejuvenescido. Falaram como filhos e filhas, lamentando a saída de cena do pai, uns compreendendo o fluxo da vida, outros parecendo desejar pará-lo. Fizeram sentir-me realizado pelo dever cumprido.

Nem que se queira, não há como apagar de nossas vidas esses seis anos de reuniões, esparsas na verdade, mas que nos marcaram por suas intensidades de propósitos e qualidades de resultados. Objetivos comuns, trabalhos conjugados, tropeços e vitórias, não são assim tão simplesmente desligados. Para a despedida requer-se um tempo de assimilação de mudanças e de ajustes.

Porquanto o grupo é tão bom e trabalha tanto e tão bem que deve poder decidir sobre como continuar. São tais os méritos pessoais e assumem tal grandeza nessa equipe, que injustiça seria supor que fosse preciso buscar fora dela uma outra liderança, para coordená-la. Ao contrário, são aí tamanhas as lideranças que é preciso investir na crença de que elas possam se ajustar em atividades cooperativas, com algumas funções e trabalhos provavelmente sendo compartilhadas e outras exercidas em rodízio.

Com essa confiança é que aceitei continuar a ocupar, formalmente, o mesmo posto do qual me despedia. A um pedido quase em coro, e compreensível, decidi permanecer, temporariamente (e por tempo tão curto quanto possível e necessário) agindo como um escudo durante o rearranjo que se espera. Distante, mas atento. Raciocinei: sim, talvez seja preciso dar-lhes tempo e segurança. Mas avisei: à próxima reunião, não venho.

E as engrenagens funcionavam e funcionam tão bem, como aliás sempre foi, sem que talvez eles se dessem conta disso que, pelo menos em conteúdo e aparência, nada mudou com a mudança. Não é mesmo?

Por enquanto. Mas, logo, melhorará.


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