Carlos Alberto Rodrigues-Alves1
DOI: 10.1590/S0004-27492003000200008
RESUMO
OBJETIVO: Avaliar a capacidade de pós-graduandos em oftalmologia para corrigir erros de português contidos em sentenças. MÉTODOS: Solicitou-se a correção de erros encontrados em 18 frases fictícias. RESULTADOS: 30 alunos responderam os testes e cometeram 92 erros. O número médio de erros por aluno foi de 3,066. 26,66% dos examinados cometeram 5 ou mais erros. CONCLUSÃO: Um quarto dos alunos de pós-graduação em Oftalmologia avaliados demonstrou resultados sofríveis quanto à correção de textos escritos em português.
Descritores: Linguagem; Redação; Comportamento verbal; Escrita manual; Testes de linguagem; Educação de pós-graduação em Medicina; Oftalmologia
ABSTRACT
PURPOSE: To evaluate the skills of postgraduation students of São Paulo University to correct Portuguese errors contained in given sentences. METHODS: The students were asked to make corrections in 18 fictitious sentences. RESULTS: 30 students answered the test, having made 92 mistakes. The average number of mistakes made per student was 3.066. CONCLUSION: One quarter of the students presented poor results in the correction of written Portuguese texts.
Keywords: Writing; Language; Verbal behavior; Handwriting; Language tests; Undergraduate education medical; Ophthalmology
INTRODUÇÃO
A tão longa convivência com Cursos de Pós-Graduação, e com tudo aí contido, tem mostrado pouco conhecimento da nossa língua por parte dos pós-graduandos. É comum o achado de português precário, inexato, deselegante e inaceitável para futuros professores universitários. Este fato foi bem comentado, aliás, por Souza- Dias, no Editorial 3 dos ABO em 1996(1). Esse autor discute alguns dos diversos erros e imprecisões corriqueiras nos textos e discursos médicos.
OBJETIVO
Para se obter amostragem do português escrito por grupo de pós-graduandos em oftalmologia foi realizada esta pesquisa. Atentou-se, de modo particular mas não exclusivo, para a concordância verbal.
MÉTODOS
Sem que os indivíduos soubessem previamente do teste, solicitou-se aos 30 alunos do curso de Pós-Graduação da Oftalmologia da USP, matriculados na Disciplina "Metodologia Científica" em 2001, a correção dos erros eventuais contidos nas 18 frases fictícias relacionadas abaixo. Quando o participante não corrigia a falta do texto, considerava-se erro do aluno.
1 - Duvidou-se das conclusões da pesquisa.
2 - Avaliou-se as conclusões da pesquisa.
3 - Restringiu-se os gastos com a bolsa
4 - Protege-se os reagentes químicos dos fungos
5 - Protege-se dos fungos os reagentes químicos
6 - Protegeu-se dos fungos os reagentes químicos
7 - A escola, onde se da cursos de primeiro grão, deve mudar
8 - Descreveu-se nos estados europeus diversos casos de doença da vaca louca.
9 - Existe, segundo o Secretário da Saúde, cinco eventos de raiva anualmente no Estado de São Paulo.
10 - O processo esclareceu de que o gerenciamento da esta tal estava irregular.
11 - Se você pôr o reagente, poderá ser encontrada a resposta.
12 - Uma enzima foi encontrada no vírus.
13 - A investigação será reaberta se houverem novos casos de dengue.
14 - Ainda está sobrando muitos tubos de ensaio.
15 - Naquela época não se fundia ferro e bronze.
16 - Com o oftalmoscópio direto não se viu corpos flutuantes de vítreo.
17 - Passado 4 anos não se constatou metástases na ressonância.
18 - Já chegou informações segundo as quais se perdeu os reagentes químicos necessários a reação química.
RESULTADOS
Apresentados na Tabela 1.
DISCUSSÃO
Embora pequena, esta amostragem demonstra alguns dados de interesse. Na média o número de erros por aluno foi: 3,066. Entretanto, oito alunos cometeram 5 ou mais erros. Isto compreende 26,66% da casuística. É bastante provável que, se o teste incluísse outros aspectos da língua, curiosas informações pudessem ser obtidas. Com isso, estaríamos mais bem esclarecidos sobre o nível de qualificação de pós-graduandos na redação e verbalização de textos em português. Este tipo de pesquisa forneceria, portanto, subsídios para eventuais providências quanto a melhoramentos no ensino da nossa língua.
CONCLUSÕES
O trabalho demonstra a apenas regular formação em português escrito de grupo de pós-graduandos em Área Médica. Como conseqüência, fica a sugestão para que aferições mais amplas sejam efetuadas neste campo.
Maior cuidado deve ser dado aos universitários para melhorar o português que eles falam e escrevem.
REFERÊNCIAS
1. Souza-Dias CR. Desrespeito ao vernáculo. Arq Bras Oftalmol 1996;59:343-4.
Endereço para correspondência
Rua Prof. Artur Ramos, 183 8o andar
São Paulo (SP) CEP 01454-011
Recebido para publicação em 22.10.01
Aceito para publicação em 08.05.2002
Nota Editorial: Pela análise deste trabalho e por sua anuência na divulgação desta nota, agradecemos ao Dr. Carlos Ramos de Souza-Dias