Harley E. A. Bicas
DOI: 10.1590/S0004-27492009000600001
EDITORIAL
Horas de mudanças, evocações e agradecimentos
Harley E. A. Bicas
Em 26 de novembro, o C.B.O. inaugurava sua nova sede, à Rua Casa do Ator, 1.117, na Vila Olímpia, em São Paulo, deixando sua casa já tradicional, na Alameda Santos, 1.343, onde estava desde 1992. A leitura sobre essa mudança traduz-se com um significado inequívoco. O do dinamismo da instituição que, sem deixar de lado todos os cuidados para com o ensino da Oftalmologia e a sua boa prática, sem se afastar da continuada preocupação e luta na promoção da saúde ocular e visual de nossa gente e sem negligenciar a busca de todos os complementos necessários para manter viva, alerta e atuante a unidade de nossa especialidade; enfim, sem deixar de crescer no respeito e na consideração de seus membros e de toda a nação, ainda mostra forças para o desenvolvimento material. Uma parte da liquidez financeira do C.B.O., diligentemente amealhada por várias gerações e resultado de cuidados gerenciais de seus administradores, é assim imobilizada, como mais uma garantia patrimonial e econômica sua, para orgulho de todos nós e como referência explícita a que, até nas demonstrações exteriores de poder, a Oftalmologia brasileira se sobressai.
Com respeito a patrimônio, e embora a circunstância seja meramente acidental, os Arquivos Brasileiros de Oftalmologia mudam, não apenas de endereço mas, também, de condutor. E já era mais que hora, pois, afinal, são agora dez anos em que venho ocupando essa responsabilidade. Volto a exemplares passados para o registro de que meu comprometimento mais formal com os Arquivos é ainda mais antigo; remonta a 1981 quando, já chefe de meu Departamento de origem e assumindo o cargo de seu Professor Titular, passei a integrar a lista de seus Redatores (volume 44, nº 2). Em 1990 fui altamente distinguido pela ascensão ao seleto grupo do então chamado Conselho Editorial (hoje equivalente ao de Editores Associados) e, em 1996, à Editoria Científica, com Rubens Belfort Mattos e Rubens Belfort Mattos Júnior. Em seguida, apenas com este, em 1998 e 1999, embora ele fosse, efetivamente, o verdadeiro responsável por toda a produção da revista. Mesmo assim o susto foi grande quando, em setembro de 1999, no jantar em homenagem aos palestrantes do XXX Congresso Brasileiro de Oftalmologia, em Recife, Rubens Belfort Júnior, por razões de assumir novos e mais exigentes compromissos, comunicava-me sua intenção de me passar, integralmente, toda a responsabilidade pela editoração da revista. Enorme honra pois, até então, essa função sempre fora exercida por um Belfort Mattos: ele, em sequência a Rubens, seu pai, por sua vez sucessor de Waldemar, o avô, fundador.
Sinto-me orgulhoso por haver sido elemento nessa transição da revista, ao tomar a providência, como uma de minhas primeiras na chefia editorial, de formalizar a passagem oficial desse patrimônio da Oftalmologia brasileira ao C.B.O. (embora este já considerasse os Arquivos como seu órgão científico e mantivesse sua publicação desde 1977 - cf. vol. 40, nº 4). Outras vitórias da revista puderam ser comemoradas durante esse tempo. Mas já são, agora, dez anos à frente dela, o que significa, mais do que conveniência, uma absoluta necessidade de que um novo comando lhe seja dado. Talvez, aliás, a duração desse mandato tenha sido demasiada. Amigos, gentilmente, protestarão dizendo que a revista cresceu muito durante esse tempo. É verdade. Como, entretanto, teria também crescido, e talvez ainda mais, se fosse com outras propostas. Pois é, afinal, a própria grandeza dessa nossa Oftalmologia que a impulsiona - e sempre mais - para novas conquistas que, inexoravelmente, virão. Contento-me em pensar que combati o bom combate, completei minha jornada, guardei a fé; essa fé na pujança da Oftalmologia brasileira, sempre grande e cada vez maior. E o fiz com o melhor que eu pudesse ter dado, em atitude de serviço e retribuição à especialidade que tanto me proporcionou.
De qualquer modo, com a clara consciência de minhas limitações e de que os progressos decorreram de conjunturas favoráveis, como a do expressivo aumento da oferta de publicações científicas no Brasil e a dos contínuos saltos de qualidade de nossa ciência oftalmológica e em sua prática, avulta-me, igualmente, a noção de que nenhum crescimento teria sido possível sem o concurso dos dedicados protagonistas das equipes de apoio, desvelados em propiciar seus preciosos tempos e talentos à revista. E - apesar das sempre perigosas omissões ao mencionar pessoas que mais intensamente trabalharam, distinguindo-as das que trabalharam muito e das que "apenas" trabalharam - não é aconselhável deixar de correr o risco para, efusivamente, agradecer às que estiveram quase todo esse tempo conosco, desde as primeiras horas. Como Mauro Goldchmit, Samir Jacob Bechara e Vital Paulino Costa, que se juntam aos que até agora permanecem, Cristina Muccioli, Mauro Silveira de Queiroz Campos e Paulo Elias Correa Dantas. E à laboriosa equipe de retaguarda, Paulo Mitsuru Imamura, Edna Terezinha Rother, Maria Elisa Rangel Braga e Hanna Rotschild (in memoriam), com a assessoria cotidiana e incansável de Claudia Moral e Claudete Nagem Moral.
Assim, pela paciência para com as insuficiências de coordenação, e pela superação decisiva delas, por meio da dedicação e apoio à causa da revista, agradeço a todos, carinhosamente. E, sobretudo, pelas oportunidades de vivenciarmos, juntos, esse período de serviço e de amor à nossa Oftalmologia.
Obviamente, continuarei a reverenciar essa revista, mais do que qualquer outra. Pois, parafraseando Fernando Pessoa, essa revista de minha aldeia não é a melhor revista do mundo, mas é a revista de minha aldeia.