Fernando César Abib1; Fernando Oréfice3
DOI: 10.1590/S0004-27492005000200024
RESUMO
O objetivo deste artigo é informar à classe oftalmológica a existência da edição em língua portuguesa da Terminologia Anatômica Internacional, editada pela Federation Committee on Anatomical Terminology (FCAT). No Brasil a Terminologia Anatômica Internacional é traduzida pela Comissão de Terminologia Anatômica (CTA) da Sociedade Brasileira de Anatomia (SBA).
Descritores: Olho; Oftalmologia; Terminologia
ABSTRACT
The purpose of this article is inform ophthalmologists of the International Anatomical Terminology in the Portuguese language edited by the Federation Committee on Anatomical Terminology (FCAT). In Brazil the International Anatomical Terminology was translated by the Anatomical Terminology Commission of the Brazilian Society of Anatomy.
Keywords: Eye; Ophthalmology; Terminology
INTRODUÇÃO
Este artigo tem como objetivo informar à classe médica oftalmológica a existência da edição em língua portuguesa da Terminologia Anatômica Internacional cujo objetivo, em sua elaboração, foi tornar mais racional e objetivo o nome pelo qual se descrevem estruturas anatômicas humanas facilitando assim sua memorização e utilização. Com este objetivo os epônimos, nomes próprios utilizados para compor nomes de estruturas anatômicas, foram eliminados da nômina anatômica em uso já há décadas.
A Federation Committee on Anatomical Terminology (FCAT) é o órgão que regulamenta e edita a Terminologia Anatômica Internacional.
Esta terminologia foi aprovada, recebeu o aval das Associações de Anatomia de todo o mundo tendo se tornado oficial a partir de 1998 e sua validade é até a revisão subseqüente.
No Brasil a Terminologia Anatômica Internacional é traduzida pela Comissão de Terminologia Anatômica (CTA) da Sociedade Brasileira de Anatomia (SBA).
Seguindo as recomendações da FCAT algumas normas foram adotadas para sua tradução, destacando-se:
Terminologia anatômica em latim e a tradução para o português ao seu lado.
Tradução para o idioma desejado o mais próximo possível do original em latim, mas adotando o termo na forma adjetiva, não genitiva, quando este era o de uso corrente, não se distanciando do original, como por exemplo: artéria cerebral posterior e não artéria posterior do cérebro (A. Cerebri posterior). Manter a coerência e harmonização dos termos nos vários segmentos.
Os epônimos, embora banidos da terminologia anatômica há dezenas de anos, continuam a ser usados pelos médicos em suas especialidades. A exclusão destes facilitará o uso do termo oficial evitando-se maiores dificuldades.
A aplicação da terminologia anatômica depende exclusivamente dos professores de anatomia e médicos. A SBA juntamente com a FCAT vem trabalhando junto às editoras nacionais, para que as traduções, os livros e os trabalhos originais saiam com a nomenclatura anatômica universalmente adotada.
Algumas das estruturas anatômicas a seguir listadas merecem comentários, pois segundo a terminologia anatômica podem nos parecer estranhas ou incorretas à primeira impressão. A seguir citaremos dois exemplos.
Epitélio posterior da córnea é o termo proposto pela atual terminologia para o que comumente denomina-se endotélio corneal. Por epitélio entende-se o tecido que reveste uma superfície, no caso a superfície posterior da córnea; o epitélio posterior da córnea trata-se de um epitélio pavimentoso (células com morfologia achatada) simples (células dispostas em uma única camada). De outra forma, endotélio pode ser entendido como o tecido que reveste cavidades e assim o endotélio corneal é o tecido que reveste a face corneal da cavidade do segmento anterior; por similaridade o endotélio vascular é o tecido que reveste a cavidade dos vasos sanguíneos ou até mesmo o peritônio, denominação própria para o tecido epitelial que reveste internamente a cavidade abdominal.
Por cristalino entende-se, comumente no meio médico brasileiro, a lente intra-ocular com poder dióptrico variável em função da acomodação. A terminologia anatômica nomina esta estrutura simplesmente de Lente, o que parece em primeira análise um termo genérico, se fizermos analogia a lentes de uma forma simplista; ou mesmo, podemos alegar que a própria córnea é uma lente do bulbo ocular e que recebe denominação específica de córnea, por que então não denominar a lente contida no interior do bulbo ocular de cristalino? Talvez porque o termo cristalino em seu significado mais puro e objetivo na língua portuguesa não descreva de forma fiel e objetiva esta lente, objetividade almejada por ocasião da definição dos princípios que nortearam a elaboração da terminologia anatômica. Sabe-se também que na língua inglesa, tal como em outras, descreve-se a referida estrutura anatômica como "Lens", fato comprovado num dos mais completos e melhores livros de anatomia ocular já editados, o "Wolff's Anatomy of the Eye and Orbit" atualmente em sua oitava edição(1). Fato este corroborado pela terminologia encontrada na obra editada pelo Prof. Adalmir Morterá Dantas, na qual a referida estrutura anatômica é denominada de Lente(2).
Com estes dois exemplos cremos ter motivado muitos colegas a debaterem o assunto, para tanto os autores colocam-se à disposição pelo e-mail [email protected]. O fruto deste debate poderá gerar propostas de readequação da tradução da terminologia de algumas estruturas anatômicas para a língua portuguesa, a serem encaminhadas à Sociedade Brasileira de Anatomia. No caso de readequação de termos no latim, e conseqüentemente em língua portuguesa, as proposições devem ser encaminhadas à Federation Committee on Anatomical Terminology, via Sociedade Brasileira de Anatomia para que pondere sobre a possibilidade de alteração e/ou inclusão de termos nominativos da anatomia do olho e dos seus anexos(3).
REFERÊNCIAS
1. Bron AJ, Tripathi RC, Tripathi BJ. Wolff's anatomy of the eye and orbit. 8th ed. Denver: Arnold; 1997. 736p.
2. Dantas AM. Anatomia functional do olho e seus anexos. Rio de Janeiro; Colina; 1983. 535p.
3. Sociedade Brasileira de Anatomia. Comissão Federativa da Terminologia Anatômica, Terminologia Anatômica Internacional. 1ª.ed. bras. São Paulo: Manole; 2001. 248p.
Endereço para correspondência
Av. João Gualberto, 1731
Curitiba (PR) Cep 80030-001
E-mail: [email protected]
Recebido para publicação em 01.12.2004
Versão revisada recebida em 20.01.2005