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Editorial

Nova técnica para o tratamento cirúrgico da cabeça do pterígio - Exérese com álcool absoluto diluído a 50%

New surgical technique for treatment of the pterygium head - Excision with 50% ethanol

Rodrigo Angelucci1; Rosângela Simoceli3; Marivaldo de Castro Oliveira3; José Ricardo Rehder2

DOI: 10.1590/S0004-27492004000500009

RESUMO

OBJETIVO: Descrever nova técnica cirúrgica para o tratamento do pterígio utilizando álcool absoluto diluído 50%. MÉTODO: A cabeça do pterígio foi submetida à exposição de gotas de álcool absoluto, diluído a 50% em água destilada, durante 40 segundos e posteriormente removida com espátula de divulsão. RESULTADOS: A excisão da cabeça do pterígio foi facilitada por plano de clivagem epitelial promovido pela aplicação do álcool diluído. O exame biomicroscópico evidenciou, após a cirurgia, superfície corneana com aspecto regular e homogêneo, o que pode contribuir para melhor qualidade de visão. CONCLUSÃO: O uso do álcool absoluto diluído a 50% com água destilada pode ser utilizado como nova técnica cirúrgica para a exérese da cabeça do pterígio da região corneana.

Descritores: Pterígio; Etanol; Ceratectomia fotorrefrativa por excimer laser

ABSTRACT

PURPOSE: To demonstrate a new surgical technique for treatment of the pterygium head using 50% ethanol. METHODS: The pterygium head is exposed by ethanol, diluted 50% with distilled water, during 40 seconds and than removed with a surgical knife. RESULTS: Pterygium head excision was rendered easier by ethanol application. After surgery, biomicroscopy showed a regular aspect of the corneal surface allowing a better vision quality. CONCLUSION: The excision of the pterygium head by using 50% ethanol can be used as a new surgical technique for exeresis of the pterigyum head.

Keywords: Pterigyum; Ethanol; Keratectomy; photorefractive; excimer laser


 

 

INTRODUÇÃO

O pterígio consiste em uma enfermidade do segmento anterior do bulbo ocular que afeta principalmente os habitantes das regiões equatoriais e, ainda que muito discutida a sua etiopatogenia, o clima árido e exposições à poeira, ventos e radiações ultravioletas da luz solar são fatores intimamente relacionados ao aparecimento desta doença(1).

Caracteriza-se por um tecido fibrovascular, de forma triangular, que cresce na região interpalpebral da conjuntiva bulbar, mais freqüentemente nasal, podendo estender-se para a córnea(2).

Histologicamente, o pterígio apresenta-se constituído de tecido conectivo fibrótico frouxo com proliferação fibrovascular do epitélio e lâmina própria da conjuntiva bulbar, determinando alterações morfológicas do epitélio corneano e camada de Bowman, em decorrência da "degeneração pseudo-elástica" que as fibras colágenas denominadas elastóticas causam na área afetada(1-2).

Diversas técnicas cirúrgicas para a excisão do pterígio já são consagradas, tais como avulsão, dissecção profunda, ceratectomia superficial, podendo ou não, estarem associadas à confecção de retalho conjuntival, transplante autólogo de conjuntiva, com membrana amniótica, esclera nua e outras. Todas essas cirurgias são realizadas com debridamento mecânico da cabeça do pterígio(3).

Agentes químicos têm sido usados amplamente para a remoção do epitélio corneano e diferentes estudos têm demonstrado que essa técnica apresenta resultados com menores índices de perda de ceratócitos e apresentando maior regularidade da superfície corneana após a desepitelização(4-6).

O tratamento cirúrgico do pterígio, nos casos em que não se consegue controle clínico satisfatório, permanece um grande desafio(7).

O objetivo deste trabalho é descrever uma nova técnica cirúrgica de remoção da cabeça do pterígio utilizando álcool absoluto a 50% diluído em água destilada.

 

MÉTODO

Descrição de técnica cirúrgica

  1. Instilação de gotas de tetracaína (0,5%) colírio seguida de instilação de povidona 5% no saco conjuntival;
  2. Infiltração da conjuntiva no corpo do pterígio com 2,0 ml de lidocaína a 2% com epinefrina (1:10000) (Figura 1a);
  3. Peritomia conjuntival peri-limbar, isolando a cabeça do pterígio de seu corpo (Figura 1b);
  4. Demarcação da cabeça do pterígio com marcador de centro óptico Thornton®, com diâmetro variável de acordo com as dimensões do pterígio (Figura 1c);
  5. Instilação de gotas de álcool absoluto® (etanol 98%) diluído a 50% com água destilada (1:1) até o preenchimento do nível do marcador (Figura 1d);
  6. Após 40 segundos absorve-se o álcool com uma esponja seca de celulose (Figura 2e);
  7. Irrigação copiosa da área com solução salina balanceada (Figura 2f);
  8. O epitélio é removido com uma espátula de divulsão, soltando a cabeça do pterígio da córnea (Figura 2g);
  9. Resseca-se o corpo do pterígio da episclera com tesoura de Wescott e em seguida a conjuntiva remanescente;
  10. Cuidadosa diatermia dos vasos episclerais hemorrágicos;
  11. Escarificação do tecido subconjuntival hiperplásico remanescente com lâmina de bisturi número 15.
  12. Para o reparo da área de excisão do corpo do pterígio utilizou-se a técnica de retalho conjuntival com confecção superior, rotação e fixação do retalho na episclera com pontos simples com fio Vycril 8.0.

 


 

 


 

DISCUSSÃO

Métodos de remoção do epitélio corneano têm sido propostos, principalmente em cirurgia refrativa, com o intuito de facilitar a desepitelização e preservar a arquitetura das estruturas corneanas.

A técnica mais utilizada nos EUA consistia no debridamento mecânico do epitélio corneano com espátula sem corte ou com lâmina de bisturi, acarretando em pequenas irregularidades epiteliais e defeitos na camada de Bowman(8-9). Tal aspecto não foi observado na exérese da cabeça do pterígio com o uso do álcool diluído a 50% em água destilada.

Etanol diluído de 10% até 30% são utilizados atualmente na técnica de PRK (Photo Refractive Keratectomy) para promover uma desepitelização corneana com exposição uniforme da camada de Bowman para posterior terapia com Excimer Laser(10).

Estudos relataram perda celular e inflamação corneana importantes com o uso do etanol a 100%(11). Entretanto outros estudos, utilizando etanol a 70%, ressaltaram cautela em seu uso(12). No mesmo sentido, Helena et al descreveram menor perda celular e menor inflamação com etanol a 50%(13).

Abad et al, encontraram uma remoção epitelial mais rápida e mais precisa com a utilização do álcool quando comparada com o debridamento mecânico do epitélio corneano(14).

Com esses dados, parece coerente admitir a segurança do uso do etanol diluído em água destilada a 50% para a exérese da cabeça do pterígio da região corneana.

Um estudo mexicano comparando o uso do debridamento mecânico com o do álcool para a ressecção do epitélio corneano na cirurgia de PRK mostrou reabilitação visual mais rápida com o álcool e igual eficácia(15) o que foi observado nos casos submetidos ao procedimento cirúrgico proposto.

A técnica cirúrgica descrita, utilizando álcool diluído a 50% com água destilada promoveu um plano de clivagem epitelial na córnea, facilitando, desta forma, a exérese da cabeça do pterígio com espátula de divulsão proporcionando uma superfície corneana regular e homogênea o que pode contribuir para uma melhor qualidade de visão.

 

CONCLUSÃO

O uso do álcool absoluto diluído a 50% com água destilada pode ser utilizado como uma nova técnica cirúrgica para a exérese da cabeça do pterígio da região corneana.

 

REFERÊNCIAS

1. Rehder JR, Hayashi H. Histological, histochemical and ultra-structural studies of gland like structures of human pterygium. Arq Bras Oftalmol. 1981;44 (1):1-4.        

2. Hoffman RS, Power WJ. Current options in pterygium management. Int Oph-thalmol Clin. 1999;39(1):15-26.        

3. Lima ALH, Nishiwaki-Dantas MC, Alves MR. Doenças externas oculares e córnea. Rio de Janeiro: Cultura Médica; 1999. v.2. p.417-8.        

4. Gundersen T. Herpes corneae with special reference to its treatment with strong solution of iodine. Arch Ophthalmol 1936;15(2):225-49.        

5. Cintron C, Hassinger L, Kublin CL, Friend J. A simple method for the removal of rabbit corneal epithelium utilizing n-heptanol. Ophthalmic Res 1979;11(2):90-6.        

6. Hirst LW, Kenyon KR, Fogle JA, Hanninen L, Stark WJ. Comparative studies of corneal surface injury in the monkey and rabbit. Arch Ophthalmol. 1981;99(6):1066-73.        

7. Alves MR. Ressecção de pterígio e uso de Mitomicina C. Sinopse Oftalmol. 2001;3(2):27-8.        

8. Thompson KP, Steinert RF, Daniel J, Stulting RD. Photorefractive keratectomy with the Summit excimer laser: the phase III U.S. results. In: Salz JJ, editors. Corneal laser surgery. Philadelphia, PA: Mosby, 1995. p. 57-63.        

9. Piebenga LW, Malta CS, Deitz MR, Tauber J, Irvine JW, Sabates FN. Excimer photorefractive keratectomy for myopia. Ophthalmology. 1993;100 (9):1335-45.        

10. Herrmann H, Hickman FH. Exploratory studies on corneal metabolism. Bull Johns Hopkins Hosp. 1948;82:225-50.        

11. Campos M, Raman S, Lee M, McDonnell PJ. Keratocyte loss after different methods of de-epithelialization. Ophthalmology. 1994;101(5):890-94.        

12. Nassaralla BA, Szerenyi K, Pinheiro MN, Wee WR, Nigam A, McDonnell PJ. Prevention of keratocyte loss after corneal deepithelialization in rabbits. Arch Ophthalmol. 1995; 113(4)506-11.        

13. Helena MC, Filatov VV, Johnston WT, Vidaurri-Leal J, Wilson SE, Talamo JH. Effects of 50% ethanol and mechanical debridement on corneal structure before and after excimer photorefractive keratectomy. Cornea. 1997;16(5):571-9.        

14. Abad JC, Talamo JH, Vidaurri-Leal J, Cantu-Charles C, Helena MC. Dilute ethanol versus mechanical debridement before photorefractive keratectomy. J Cataract Refract Surg. 1996;22(10):1427-33.        

 

 

Endereço para correspondência
Rodrigo Interlandi Angelucci
Rua Caconde 365, 6° andar
São Paulo (SP) CEP 01425-011
E-mail: [email protected]

Recebido para publicação em 27.05.2003
Versão revisada recebida em 06.11.2003
Aprovação em 09.01.2004

 

 

Trabalho realizado no Instituto de Olhos da Faculdade de Medicina do ABC-SP e no Centro Oftalmológico Ibirapuera - SP.


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