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Editorial

Tumores malignos de pálpebra

Malignant eyelid tumors

Luis Henrique Schneider Soares1; Cecília Vasconcellos Bello2; Andrea Kaercher Loureiro Bing Reis3; Ricardo Rodrigues Nunes1; Eduardo Marques Mason2

DOI: 10.1590/S0004-27492001000400003

RESUMO

Objetivos: Estudar a incidência de tumores malignos de pálpebra no Hospital Banco de Olhos de Porto Alegre. Métodos: Estudo retrospectivo dos casos de tumores malignos de pálpebra no período de 1985 a 1997, que tiveram diagnóstico confirmado por exame anátomopatológico. Resultados: Foram encontradas 54 neoplasias malignas, sendo 75,92% carcinoma basocelular, 12,96% carcinoma espinocelular, 7,40% melanoma e 1,85% lentigo maligna. A maioria dos pacientes apresentava mais de 40 anos e não houve prevalência de sexo. Conclusões: O tumor de pálpebra mais freqüente em nosso meio foi o carcinoma basocelular, seguido do carcinoma espinocelular. O melanoma foi o terceiro em freqüência mais encontrado em nossa pesquisa.

Descritores: Carcinoma basocelular; Neoplasias palpebrais; Carcinoma de células escamosas; Tumores; Incidência

ABSTRACT

Purposes: To study the incidence of eyelid malignant tumors in the Banco de Olhos Hospital of Porto Alegre from 1985 to 1997. Methods: We retrospectivelly analyzed clinical archives and in this study all cases of malignant eyelid tumors with histopathologic examination were included. Results: We found 54 eyelid tumors: 75.92% basal cell, 12.96% squamous cell, 7.40% melanoma, 1.85% undifferentiated carcinoma and 1.85% lentigo maligna. The majority of the patients was over 40 years old, 50% were male and 50% female. The diagnosis was confirmed in all cases through histopathologic examination. Conclusions: Basal cell carcinoma was the most frequent eyelid malignancy followed by squamous cell carcinoma. Melanoma was the third most frequently found tumor in our study.

Keywords: Carcinoma; basal cell; Eyelid neoplasms; Carcinoma; squamous cell; Tumor; Incidence

INTRODUÇÃO

As lesões palpebrais são responsáveis por uma porção importante da prática clínica da oftalmologia.

Apesar de bastante aparentes, o que facilita sua detecção e diagnóstico, ainda pouco se sabe sobre a freqüência destes tumores palpebrais, principalmente em nosso meio. Devido à importância do diagnóstico precoce tanto para menor remoção tecidual como para reconstrução palpebral mais facilitada temos como objetivo deste estudo:

• Conhecer a freqüência e a localização dos tumores palpebrais malignos em nosso meio;

• Conhecer a prevalência em relação ao sexo e a idade dos portadores de tumores malignos de pálpebra.

 

MÉTODOS

Foi realizado um estudo de todos os casos de tumores malignos de pálpebra operados no Hospital Banco de Olhos de Porto Alegre no período de 1985 a 1997.

Foram consultados arquivos clínicos e foram incluídos neste estudo todos os casos de tumores malignos de pálpebra que tiveram diagnóstico confirmado por exame anátomo-patológico.

Foram analisadas a freqüência e a localização dos tumores, além da idade e sexo dos pacientes acometidos.

 

RESULTADOS

Foram encontrados 54 tumores palpebrais malignos, sendo 41 (75,92%) carcinomas basocelulares (Ca baso), 7 (12,96%) carcinomas espinocelulares (Ca espino), 4 (7,40%) melanomas (Melanoma), 1 (1,85%) carcinoma indiferenciado (Ca indif), 1(1,85%) lentigo maligna (Lentigo) (Tabela 1).

 

 

O Ca baso (Gráfico) ocorreu mais em indivíduos na faixa etária dos 70 anos, porém também ocorreu em indivíduos na quarta década de vida. Quanto à prevalência de sexo, ocorreu mais em indivíduos do sexo feminino (Tabela 1). Acometeu mais freqüentemente a pálpebra inferior e a porção interna da pálpebra (Tabela 2).

 

 

As margens cirúrgicas estavam livres em todos os tumores, evidenciado pelo exame anatomo-patológico, não havendo recidiva no período de 2 anos em que foi feito acompanhamento clínico.

O Ca espino foi o segundo tumor maligno mais freqüente na pálpebra. Ocorreu em indivíduos com média de idade de 60 anos. Houve predileção pelo sexo masculino (71,42%) (Tabela 1).

Nos 7 pacientes com Ca espino, 4 ocorreram na pálpebra inferior (57,14%), 2 acometeram pálpebras superior e inferior (28,57%), e 1 apenas acometeu pálpebra superior (14,28%), não havendo recidiva no período de 2 anos em que foi feito acompanhamento clínico.

O terceiro tipo de tumor palpebral mais freqüente foi o Melanoma, afetando preferentemente idosos, apesar de um caso ter acometido um indivíduo de 35 anos. Houve preferência pelo sexo feminino (51,85 %) (Tabela 1). Com relação à localização da lesão tumoral, observamos que 100% das lesões acometeram pálpebra inferior).

O Ca indiferenciado ocorreu em um paciente do sexo masculino (Tabela 1) e acometeu pálpebra superior (Tabela 2).

Um paciente de 68 anos, sexo feminino (Tabela 1), apresentou lentigo maligna, que acometeu canto interno (Tabela 2).

 

DISCUSSÃO

Lesões cancerosas ocorrem com maior freqüência na pele do que em qualquer outra parte do corpo, estando em parte relacionadas à exposição solar ou a outras radiações eletromagnéticas e também ao contato com carcinógenos químicos, além da predisposição genética. Em países tropicais como o Brasil há uma incidência elevada de lesões de pele por exposição solar(1).

O Ca baso é o tumor de pele mais comum, correspondendo a 90% dos tumores malignos de pálpebra. Em nossa casuística, o Ca baso foi responsável por 72,34% das lesões malignas das pálpebras. Em outros estudos, a incidência deste tumor na pálpebra varia de 77,53%(1) a 90%(2).

Em nosso estudo os indivíduos com Ca baso apresentavam mais de 40 anos, predominando em indivíduos maiores de 60 anos, porém 6 deles apresentavam-se na quarta década de vida. O Ca baso é mais freqüente após os 60 anos e entre 409 Ca baso de pálpebra da Universidade de Iowa, apenas 3,2% ocorreram entre indivíduos de 21 a 35 anos(3). Predominou em indivíduos do sexo feminino(3), enquanto a literatura aponta um predomínio em indivíduos masculinos(4).

A grande maioria dos Ca baso ocorreu na pálpebra inferior e no canto interno, fato concorde com outros relatos(2,5-6) provavelmente pela maior exposição solar.

Quando não removido por completo, o Ca baso pode recorrer no local, porém metástases ocorrem em 0,1% dos casos(7). Estes tumores podem erosar ossos periorbitais, invadir o globo e mesmo o cérebro. Em nosso estudo não houve casos de recorrência, invasão profunda, ou metástase tumoral.

O Ca espino em nossa série correspondeu a 12,76% dos tumores malignos das pálpebras, enquanto na literatura existem relatos de 7%(8) a 18%(6).

Segundo descrição realizada na literatura(9) o Ca espino ocorre geralmente em idosos, o que corresponde aos achados deste estudo em que a idade dos pacientes que apresentaram Ca espino variou de 53 a 80 anos.

Conforme constatado por Burnier Jr. et al.(4) em 1985 houve uma grande preferência pelo sexo masculino, já que dos 6 pacientes com Ca espino, 5 eram do sexo masculino.

Nosso estudo contrasta com a literatura em relação à localização do tumor - 83,3% em pálpebra inferior ou superior e inferior, enquanto segundo outros autores, este tumor ocorre mais na pálpebra superior(5).

O Melanoma maligno na literatura representa lesão neoplásica rara da pálpebra, representando apenas 1% dos tumores malignos palpebrais(10). Porém, no nosso estudo, encontramos 7,40% de incidência.

Esta neoplasia é importante por ser um dos cânceres de pele mais agressivos. Dois terços das mortes devido a câncer de pele são secundárias a melanoma maligno.

Houve maior incidência em mulheres, sendo 3 casos em mulheres e 1 em homem. Todos os casos ocorreram na pálpebra inferior, sendo que 2 acometeram toda a pálpebra.

A idade variou de 35 a 82 anos, sendo que dos quatro pacientes acometidos 3 tinham mais de 50 anos. Um caso foi originado em nevo prévio.

O tumor de pálpebra mais freqüente em nosso meio foi o Ca baso (75,92%) que teve maior incidência em indivíduos maiores de 40 anos, sexo feminino, mais na pálpebra inferior, porção interna e média.

O Ca espino ocorreu em 12,96% dos casos, em indivíduos com mais de 53 anos e do sexo masculino. Ocorreu mais freqüentemente em pálpebra inferior.

O Melanoma foi encontrado em 7,40% dos casos, mais em idosos, sexo feminino e todas as lesões acometeram pálpebra inferior.

 

 


 

 

REFERÊNCIAS

1. Schellini AS, Costa JP, Cardilo JA, Paro PT, Marques MEA, Silva MRBM. Neoplasias malignas das pálpebras na Faculdade de Medicina de Botucatu. Rev Bras Oftalmol 1990;49:47-53.         

2. Francis IC, Benecke OS, Kappagoda MB. A ten-year hospital survey of eyelid cancer. Aust J Ophthalmol 1984;12:121-7.         

3. Nerad JA, Whitaker DC. Periocular basal cell carcinoma in adults 35 years of age and younger. Am J Ophthalmol 1988;106:723-9.         

4. Burnier Jr M, Belfort Jr R, Rigueiro MP, Montezzo LC, Chiferi Jr V. Neoplasias malignas da pálpebra. Arch Chil Oftalmol 1985;42:145-53.         

5. Halnan KE, Britten MJ. Late functional and cosmetic results of treatment of eyelid tumours. Br J Ophthalmol 1968;52:43-53.         

6. Apple DJ, Rabb MF. Conjuntiva and eyelids. In: Apple DJ Ocular pathology 3rd ed St Louis: Mosby; 1985. p. 465-89.         

7. Eshler Z, Leviatan A, Peled I, Wexler M. Spinal metastases of basal cell carcinoma. J Surg Oncol 1984;25:28-33.         

8. Aurora AL, Blodi FC. Lesions of the eyelids: a clinicopathological study. Surv Ophthalmol 1970;15:95-104.         

9. Welch RB, Duke JR. Lesions of the lids: a statistical note. Am J Ophthalmol 1958;45:415-6.         

10. Leventhal HH, Messer RJ. Malignant tumors of the eyelid. Am J Surg 1972;124:522-6.         

 

 

Hospital Banco de Olhos de Porto Alegre (RS) - Brasil.

1 Fellowship em Retina e Vítreo no Doheny Eye Institute e USC (University of Southern California) - Los Angeles - California.
2 Residência em Oftalmologia no Hospital Banco de Olhos de Porto Alegre.
3 Ex-estagiária do Departamento de Plástica Ocular e Órbita do Massachusetts Eye and Ear Infirmary (MEEI) - Boston.
4 Fellowship em Retina e Vítreo no Doheny Eye Institute e USC (University of Southern California) - Los Angeles - California.
5 Chefe do Departamento de Plástica Ocular do Hospital Banco de Olhos de Porto Alegre.

Endereço para correspondência: Luis Henrique Schneider Soares. R. Damazio Trindade, 379 - São Gabriel (RS) CEP 97300-000. E-mail: [email protected]

Nota Editorial: Pela análise deste trabalho e por sua anuência sobre a divulgação desta nota, agradecemos a Dra. Lucia Miriam D. Lucci.


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